sábado, 18 de julho de 2020

Lábios Dormentes

Ponta dos dedos geladas
Fumaça sobe
eu não sinto nada na ponta da língua

A brisa induzida
não sei como explicar mas ela sai, assim
hoje eu quero ver assombração
ver vulto
quero entender a morte

Indução
Fobias
duas palavras distintas com a mesma divisão fonética.

eu me amo
eu te amo
eu vou encontrar você por telepatia
ou em delírio.

Eu sinto você
Eu te desenho.
Me lembro do teu rosto ainda.

Dropei um e liguei um terror na tv


Já que você não veio

Conversa de corredor de supermercado


O ano era 2011 e a Nintendo lançava um console portátil com capacidade de reproduzir imagens em três dimensões:
Léo: - Esse 3D dá pra ver sem óculos por que uma tela espelha a outra e dá um efeito holográfico que...
Diego: - Leo, Nintendo...?
Léo: (!)
Eu: Aff... o DS da minha blusa é de Drop Sista*, burros haha
Diego: - Duvido cê apertar o controle hahahaha
Léo: - (!)

Enfim, tô aleatória hoje, me aguenta.

Drop?
Bike!
Na pista.
Eu me lembro tanto deles naquele quarter.
Skate or die.
DIE.

Agora vamos falar do picadeiro e da lona do circo:

 O Globo da Morte é um show apresentado entre os intervalos do espetáculo com o objetivo de desviar a atenção da platéia enquanto uma próxima cena é montada no palco principal. Os kamikazes dão perdido por diversão, são os escudos. Assim como os malabaristas, eles manobram cada ato, o anjo do dia hoje daria a vida pela minha liberdade, por diversão. Eu daria uma vida pra ele só pelo gozo.

*Drop Sista = linha feminina da marca de skate Drop Dead
Todos os fatos citados nesse texto são absurdamente reais, apenas em cronologia confusa. Encaixe as peças.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Bad Trip

Morbidez

 Fugindo de mim eu corro do meu trabalho e de casa. Um revolver com munição no mercado clandestino custa cerca de mil reais, remédios controlados causam convulsão e não são uma boa opção para quem quer morrer rápido. Acendo um cigarro na brasa do outro há dias, gosto do dinheiro mas odeio picar as peças, odeio manchar as mãos de branco, odeio quando corrói meu esmalte, odeio e amo a velocidade que tudo acaba.
 Nesse momento em que vomito as palavras aqui, conforme me vem na cabeça, eu to tentando desviar meu pensamento para que esse texto não se torne mais uma crônica sobre você, em vão. 
 A vontade da morte não cala. O delírio permanece nas camadas adiposas do meu corpo, tudo é ácido e visualmente colorido mas eu tô cinza.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Estado Alterado da Consciência

 Quando seus olhos me hipnotizam


"Não confunda amor com lsd"
um labirinto místico
onde os grafites gritam
não dá pra descrever
numa linda frase
de um postal tão doce
cuidado com o doce...

 Aquele momento que antecede o toque e dá pra sentir a alteração de temperatura corporal e de pulso. Sabia que existe uma maneira muito eficaz de fazer uma pessoa dormir a partir da indução do relaxamento dos sistemas nervoso e muscular? Acontece através do controle do ritmo da respiração e em poucos minutos está inerte em segurança, tranquilidade, sono e sonhos. A ultima vez que te vi parecia dopado, seu toque pesava à minha pele e eu queria ter dormido no teu ombro a noite inteira, mas você precisava ir.

 Não quis atender o telefone, levantou, se vestiu, me olhou deitada coberta e sentou na beirada do colchão por longos minutos de costas.
 Coloquei a mão embaixo da sua blusa nas costas e continuei deitada, como que dando continuidade àquela mania que a gente tem de dormir "segurando" o outro com as mão ou pés (pelo menos é assim que na minha cabeça se parece rs) eu sentia seu corpo pesar sobre meu braço e ouvia sua respiração, mas a verdade é que a tradução mais transparente desses minutos é o quanto a sua partida é sempre doída pra mim. Isso acontece por que eu amo teus olhos, amo teu corpo, amo a pessoa que você é e a alma que tem, amo acima de tudo a sensação de respirar a temperatura do teu corpo antes de sentir o toque e o gosto.
 Eu te amo.
 Chapa comigo pra sempre?

Tocaia

 O encontro entre Psiquê e Eros sempre foi uma armadilha tal qual o caçador e a Branca de Neve, onde supostamente ele se apaixona pela presa e a liberta. A verdade é que Psiquê era mantida na relação sob a regra de nunca ver o anjo, e ainda assim às cegas o tinha como alguém virtuoso de inúmeras qualidades.

- Vamos lá, eu vou subir primeiro, depois você sobe e vê como está.
- Ok.
...
- Sobe lá.
- To com medo, a escada tá tremendo.
- Sobe, eu to embaixo, se cair eu te seguro.
- Não consigo.
- Se apoia no concreto que você já vai ver.
- Fechou, tá la já.
- Quando ficar com medo tem que ser assim mesmo, pode me procurar, o medo mostra quem são as pessoas.

 O estômago mais uma vez dói e eu pressinto a crise: o aperto na garganta, o frio na espinha, a dor atrás dos olhos e tudo o que já é muito familiar. A próxima crise não vem num fim de semana depois de beber até me afogar com as próprias verdades ou num momento de fraqueza, ela vem na minha subida e seus olhos não me acompanharão no declínio.

20/05/2020

segunda-feira, 6 de abril de 2020

168 Horas Caóticas

A Reinauguração

 Ao chegar em um ambiente negativo ou pesado de energia deve-se inunda-lo de outras vibrações que anulem essa carga, do contrários permanecerá o clima de tensão durante a estadia.

Quem não conhece o amargo não merece o doce

Som no talo
bebida
droga
churrasco

o vizinho não reclama por que ta dançando nu nas luzes do meu quarto
As paredes gritam agora em fosco as minhas palavras
Alucinação
beijo quadruplo
Dormi suja de tinta e sonhei que cê era um desenho
acordei sozinha ouvindo gritos.

A NOITE CONTINUA

À propósito da balada clandestina


Eu venci à maldição dos 27 dançando mais uma vez sob as luzes. "Mais um gole? De vodka ou cerveja? Eu vou de vinho, e desce o doce, e fumo o fire, e passo o pó." as paredes estão gritando novamente e agora já transmitem a sua falta. Eu tô à beira do surto mas não posso deixar que ele se sobreponha a mim. As vozes dentro deste comodo me dão agonia, o rádio me dá agonia e eu bebo pra não explodir. Não me lembro bem o que aconteceu durante os próximos quatro dias devido ao estado alterado continuo da minha mente mas sei que em algum momento eu ganhei bombons, uma plaquinha "inspira, respira e não pira" e houve um almoço de pascoa antecipado. Sei também que na última noite você veio e eu finalmente desabei.

QUANDO A CALMARIA EMERGE DO CAOS ME SINTO EM EQUILÍBRIO.

(Sobre os acontecimentos da quarentena de 21 à 28/03)

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Campana

 Minhas mãos suando amolecem as capsulas, a neve fica pegajosa e preciso parar por uns minutos. Ando, desamarro e prendo de volta o cabelo, tiro e coloco o chinelo, acendo um cigarro light e volto a olhar pela rachadura da porta da frente a rua.
 Eu sempre digo que odeio quando você vai embora por que não lembrava mais da sensação de quando você não vem. Transformei o que seria nossa casa na minha base de trabalho e to girando nota em meio à crise pra esquecer da sua imagem deitada no sofá que nos últimos dias tem sido a minha cama. Girando nota ao menos eu faço o cabelo, as unhas, compro uns colares novos, um relógio ou qualquer outro mimo que preencha no meu ego o arrombo da sua ausência. Enquanto você não voltava me perdi por alguns dias, dancei e ri com parasitas, alucinei e não dormi.
  Ouvi dizer que são muitos carros deles hoje de novo e eu transformei a nossa casa em bomba. Nossa não, minha casa. Você nunca ousou estar comigo entre as paredes dessa babilônia pra sempre.
 Analisando a porta de madeira com alguns trincos: ela abre em duas folhas pra dentro, há duas travas (em cima e em baixo). Um chute frontal bem dado abriria ela como as minhas pernas quando você me acorda às dez.
 A ansiedade de dormir com um olho aberto irrita meu estomago e hoje a entrada da rua principal tá silenciosa demais pro meu gosto. 

domingo, 8 de março de 2020

Meus Votos (parte 2)

Ciclismo

Era uma vez em Mongagua
_E o baile da plataforma?
- Queria
- Onde é a plataforma?
- Vamo de bike?
- Fire on the play
- Vamo de cavalo?
- Fire on the pagode
- Vamo de transpraia?
- Pancadão...

"Encosta ali"

Eu não encosto, eu ando.
¿E pela ciclovia?
¿La plata?
¿En lo pulso?
Pulsante.

Foda-se a formatação;

quinta-feira, 5 de março de 2020

Meus Votos (Parte 1)


I - A Melancolia das Relações Livres

 É diferente de quando você é predestinado a passar o resto da sua vida com tal pessoa; eu falo daquela relação que à primeiro momento tentamos evitar e a longo prazo é um teste de resistência. A ação, a esquiva e a quebra de guarda.  

II - O Anarcoamorzinho

 Perdoa o clichê, mas é fácil ter alguém pra beber e dançar na festinha, fazer um rolezinho de casal, tirar umas fotos pro insta e até pra apresentar em casa e fazer uma média. Foda é quando tua vida tá desmoronando, tua saúde mental tá em crise, você passa por algum risco ou situação que te destrói e não tem nenhuma pessoa "feliz" com você ali. E foi neste tópico que eu me apaixonei pela presença do seu silêncio: que não me prende, não me julga e não faz perguntas. Me acolhe e me ouve.

III - Se Essa Rua Fosse Minha

 A Tempestade: sai do trabalho à meia-noite de sexta e pedi um lanche no trailer do outro lado da rua. Força Tática dá indigestão.
 O Arco-Íris: sai do trabalho à meia-noite do sábado, o trailer do outro lado da rua não existe mais ali. A minha cara de criança sem babá agarrada no moletom preto do NWA escrito "Fuck The Police" e ele em silêncio.
 O Sol: "Nunca falei nem quando tava bêbado, vou falar agora?"

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Textinho de Bom Dia

O cheiro dele na minha cama
os braços, as pernas, a cabeça, pés e mãos enrolados no meu cobertor
Ele sorri dormindo
as manchas dele na minha cama

 Pelo terceiro ano eu me apaixono pelos mesmos olhos verde-água. E ainda tem o jeito de falar, a chantagem emocional, o jeito que ele se vinga fingindo que não me conhece e a cara de arrependido que ele volta depois reclamando do frio. E eu espero.
 Eu faço cena pra tentar impedir que ele saia da minha cama enquanto ele, deitado sobre mim, se despede.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Trêmula


Angústia 


 Aquela sensação entre as vias respiratórias que tentamos engolir e pinica o pescoço, parece que formigas estão subindo pelas minhas pernas e coça muito, esquenta a ponta dos dedos e outras extremidades do corpo.

Ansiedade

 Eu preciso escrever algo agora pra passar o tempo, ando em círculos no quarto, deito, levanto e mudo o canal muitas vezes. Decido sair, passo pelo portão, ando até o bar da esquina e volto. As mão estão suando muito e em seguida o corpo todo, então eu vou pro banho. Saio do banho, janto e continuo com fome.

O preço que pago por nadar contra a corrente é ter a saúde psicológica em crise, dinheiro vem, a mente vai. Eu sei que tô enlouquecendo aos poucos e encontro escapes pra esse transtorno quando coloco a cara no sol, ou seja, o que me destrói é a vida paralela, é dissimular quase que o tempo todo e andar na rua em choque. Agora chegou o momento de explicar as máscaras e o simbolismo delas: rimos quando queremos chorar e choramos quando devemos rir, criamos duas personalidades que vez ou outra entram em conflito. Às vezes é melhor sobressair a máscara do que o rosto. 
 O rosto assusta a todos que se apoiam de alguma forma na confiança da expressão da máscara, parada, calculista. A máscara costuma ser associada a personalidades falsas mas ela na verdade é uma cópia fiel do rosto, moldada nele porém fria, a máscara é como uma fotografia da expressão: escolha a sua melhor e eternize daquela forma pra usar quando precisar de defesa.

Até eu já tô enjoando desses desabafos, esse site de inicio era uma ideia coletiva pra disseminar conhecimentos científicos, sarcasmo e textos fora da realidade em doses desmedidas, eu tirei ele dos trilhos pra que não morresse acho rs
Enfim, parei de surtar e vou ali bolar um cigarro.
Minha veia temporal tá pulsando.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Bi

Quarta-Feira, primeiro de janeiro de dois mil e vinte.

Meia-noite

Se tem uma habilidade que eu domino é a de fazer ninho aqui e ali e cultivar famílias, embora da minha própria eu seja um pouco distante. A ultima viagem de família que fui num fim de ano acabou que eu viajei em grupo e "turistei" nas ruas do Rio na calada da noite enquanto eles dormiam, sambei na Pedra do Sal, conheci os trilhos das Central do Brasil, subi a Providência de bondinho, transei atrás do palco da virada em Copacabana e no fim vi o show do Jorge Ben sozinha na areia. Ano passado eu não viajei, almocei no "chefe" com os parceiros da correria e passei a noite com amigos mais íntimos, lembro de estar particularmente feliz, tranquila e em uma boa fase, com grana, saúde psicológica e pessoas queridas ao redor. No primeiro dia do ano passado as crianças me buscaram em casa pro churrasco na casa da Bi. Veja bem, eu tô aqui, enchendo essa linguiça toda de bláblá pra contar o que tem de diferente entre o ano novo no ano passado e neste. Eu to com esse "churrasco na casa da Bi" engasgado tem cerca de um mês. 
Gente sozinha cria a habilidade de se familiarizar com outras pessoas sozinhas.
Embora eu goste da minha solitude este fim de ano eu tive crises de ansiedade e pânico fortíssimas no últimos dias e vi meus amigos se evitando pra não chorar na frente um dos outros. A questão é que "Bi" somos todos nós e eu com toda a minha frieza sempre afirmei que nunca tinha ido a velório de "bicha" e ninguém ali ia ser a primeira, mas ele foi. 
Esse textão imenso vai ficar um lixo, eu sei, to dando muitas voltas no assunto mas aqui não importa a estética. 
Vamos do início. 
Vinte e cinco pinos de cocaína e uma corda no pescoço. 
Vinte e cinco pinos de cocaína, uma corda no pescoço de um cadáver sentado no chão do banheiro, um vídeo, uma carta, muitas mensagens e ligações. 
Depressão, ansiedade, suicídio por overdose e omissão de socorro. 
Eu tô engasgada por que ontem eu sai de casa toda montada no pretinho básico fendado, radiante, contei meia-noite com o ex parceiro de trabalho, o filho dele e nosso cliente mais fiel e solitário, depois vi meus amigos cantando, dançando e volta e meia alguém lembrava que faltava um e sumia. Chorei sozinha escondida com a garrafa e o cigarro, lembrando dos momentos que passei quando começamos a nos tornar próximos, eu e a Bi, através da tia dele quando moravam juntos, minha melhor amiga. Era uma relação de amor e ódio que hoje entendo que o ódio vinha do vício, eu tinha o que ele queria mas respeitava a opção dele de resistir. Nem todos são assim, a maioria se move à dinheiro, mesmo que eu não me reconheça dentro das minhas atitudes as vezes, sempre tive consciência. 
É a segunda vez que eu encaro a morte por overdose. Na primeira eu vi sumir a vida do fundo dos olhos verde-água mais lindos que eu conheço, da pessoa que eu amava. Segurei ele se debatendo e vomitando, sufocando. Dormi sentada, agarrada a ele na maca e vi a vida voltando. 
Bi pediu socorro quando começou a sufocar, ligou pra um amigo que não compareceu. 
Eu já apanhei da polícia na cara e fui chamada de fria e incapaz de chorar, hoje eu choro em qualquer lugar e pra ser muito sincera o comércio de cocaína não faz mais parte da minha rotina já tem uns seis meses. Tenho sorte de nunca ter me perdido, nem usado. Hoje eu acordei jurando que nunca mais encosto num pino. 
Esse ano não teve churrasco na casa da Bi, um a menos no rolê, não vai ter parceria forte no tamborim do carnaval, nem dançarino de forrózinho de bar e toda vez que ouvir "Gosta de buteco e de cerveja de garrafa" naquela parte que o cantor deixa o coro pra platéia, eu vou lembrar de você cantando com o maior carinho do mundo.


Texto dedicado ao E., pessoa doce, forte e amável que encontrou a paz em meio ao caos.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Artur

Queria descreve-lo como "o rei" mas acho o blablablá mitológico meio chato.

 Arcturo ou Arturus: É uma estrela que tende a ser duradoura, a mais brilhante do hemisfério celestial norte e a quarta mais brilhante do céu noturno, é trinta vezes maior que o Sol, emite cento e oitenta vezes mais energia que ele, emana radiação não-ionizante em ondas que vão diminuindo em tamanho e consequentemente aumentando em frequência (infravermelho) e por isso a NASA a classificou como "gigante vermelha" posteriormente alterando para "média alaranjada".
Sua magnitude é média e a temperatura altíssima.
10/2019



Dedicado al paraguayo con ojos sonrientes y hermosas piernas.

Ode Aos Maus

"No exército dos excluídos sem alistamento pra guerra o treinamento base é o sofrimento."

Na ponta dos pés a gente segue pisando em minas: os cães de guarda do patrão, o sistema corrompido (e corrupto), a inveja de sono leve... Mas tamo aí, sem gelar e com pensamento positivo.

Retrospectiva pra quê se o maior clichê do ano nem deu conta de virar textão? Tá ali esquecido só o título. Quem é que começa um texto pelo título? Ninguém, e quem não começa não termina.

Que me desculpem os bons mas os maus serão sempre mais atraentes enquanto mais sinceros. Não adianta nada ser um bom samaritano de mentira, a sua caridade não me comove e me da nojo o seu sorrisinho aberto e tua mãozinha estendida pra qualquer um de A a Z. 
"Ai mais a maldade do mundo não me corrompe e a minha atitude é independente"
Mentira do caralho. Corrompe sim. Eu quero ver a sua ferida aberta e perceber intensidade nela, quero ver sangue e pulsação, sentir que você é de verdade. Presenciar ódio e raiva, saber que em ti existe rancor e que não és alguém de plástico.
É pelo pior lado que realmente conhecemos cada pessoa. Por aquilo que ela não mostra. Tudo o que exibimos num pedestal sobre as nossas vidas é do que nos orgulhamos e nessas imagens colocamos diversos filtros para que se encaixem perfeitamente aos olhos alheios por vaidade, distorcemos o que é real e a parte da qual não temos orgulho nenhum é o mais puro do que somos.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Eu Não Quero Ver Você Sorrindo Ópio

 Outra crônica sobre palhaços


 Um dia desses andando na pressa do centro vi um clown tocando violão. Atravessei a avenida na tentativa de ouvir o que ele dizia, era uma musica conhecida e parecia que ele errava a letra de propósito mas não mudava o tom das metáforas de forma alguma.

"Eu não quero ver você fumando ódio
Eu não quero ver você sorrindo ópio, pra sarar a dor"

 É como se o abismo não só olhe pra mim como também me engula, a queda é leve e lenta como a da Alice no país das maravilhas mas não há quadros e mesas e nem coisa nenhuma ao redor. Não é tão ruim quanto parece, quando se chega no fundo do poço dá ate uma satisfação e vontade de continuar lá, mas não pode. O fim do abismo nada mais é do que um espaço de tempo pra refletir: como e por quê caímos, como vamos sair e quem vai nos ajudar.
 É como ser presenteada pelo garoto que faz malabarismo no sinal, é a mesma sensação da pessoa que você gosta ter elogiado seu corte de cabelo, encaixa sua mente peça por peça como longas horas de conversa com quem já passou de tudo e por fim é como anadar na contra mão em velocidade baixa, entre o frio na espinha e a cautela.
Trabalho a noite, durmo de dia, nem sei se volto pra casa

 Do maluco que ja me protegeu na volta pra casa de madrugada aos malucos do mundão que rompem fronteiras e limites, os arlequins que não deixam a minha mente cair em tédio durante as horas sinistras, os gritos nos muros, os companheiros que se encontram distante de mim fisicamente mas mentalmente sempre estão em conexão, a paixão nossa de cada dia, os pilares e os parceiros: tudo isso vem da rua, e ela me salva.

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Arlequins e Pierrôs

O Guarda-Costas

É sexta-feira e a lingerie azul sob o vestido grafite guardava um veneno em capsulas também azuis. Maquiada, a boca vermelha sorri e bebe, e beija, e o corpo dança a qualquer som.
- Quer sair daqui?
- Agora não, só faltam dois.
- Mas é quase hora de eu ir embora.
- Vai amanhã.


O Poderoso Chefinho

Apenas entra em cena, olha pra Colombina de vermelho que naquele momento tragava o cigarro, de leve esboça um sorriso e desaparece em alta velocidade.
- Boa noite patrão.

Samba de Camisa 10

To cantando e sorrindo na cara do meu problema, ele quer que eu me aproxime mas sabe que não pretendo mudar de lado. O time dele começa a vencer a partida. Observo a jogada suja atenta aos bandeirinhas que torcem pra quem ganha, afinal são eles que dão volume ao senso comum.
Ele tem uma carta coringa na manga mas é inútil pois Coringas se amarram nas Colombinas, e neste dia ela usava transparência em tons de preto.

Dia de Branco

O resultado da pura trairagem e da inveja são porcos arrombando a sua porta.
- Boa noite, você consegue me trazer mercadoria hoje?
- Hoje não, fiquei sem nada.

"Nós somos a tempestade"

O Kamikaze pilota na contramão, esperando o melhor momento pra entrar em cena e criando o conflito da história a ser solucionado: uma colisão no trânsito no lugar exato, calculado. Prontamente os soldadinhos estiveram a postos e de peito a frente, mas não há heroísmo sem terrorismo.
Saldo de 3x1, um corpo de pm no chão e o suicida dizendo adeus às gargalhadas.

Ameno

- Olha minha menina, não é uma graça, a minha cara?
- Hahaha, bonitinha mesmo.
- Tá terrível, igualzinha ao pai. Fui ai e não te vi, agora vou demorar uns dias. Onde você tava?
- Fui no local marcado, não tinha ninguém. Da próxima vez arruma um celular pra avisar que veio.

Singelo

"Andem! Venham todos ajudar a salvar a vida das criancinhas acamadas!"
E eu paro, respiro, tiro a máscara: as duas ultimas semanas foram cruéis. Sorte que a vida não é só chuva, e ainda que eu goste de ser tempestade jamais seria nada sem um dia de Sol.

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Red

Uma de Dez
(Um devaneio sobre transar conforme a música)

Vou te contar uma história do avesso hoje: o submundo me salvou do abismo criado pelas regras de consumo onde você vale o que oferece aos outros e a imagem que passa.
 Eu não uso grife.
 Eu não uso maquiagem, nem filtro.
 Veja bem, uma de dez custa o quanto eu quero que ela valha: varia peso, quantidade e embalagem mas preço é sempre o mesmo. Entende a diferença entre valor e preço? Pois bem... muitas pessoas não valem dez mas custam dez e muitas vezes um dez é bem pouco. Rastejante, você acredita que é o único a ter a brilhante ideia de me bajular?
 Poder é afrodisíaco, então, tira a roupa.
 Dá o que tem.
-
 Andar na contramão nem sempre é suicídio.

mar/2019

sábado, 7 de setembro de 2019

Morte

Ou Independência?

 Conheci o Cotrim com a cara pintada de branco e dentro de um vestido longo de princesa numa oficina de Clown em 2012, quando ensaiávamos uma intervenção urbana que aconteceu na praça Rui Barbosa no centro de Bauru. Nunca fomos muito próximos, circulávamos por algumas rodas de amigos em comum e as vezes o encontrava nos bares e festas da cidade, mas o teatro é algo que nos sensibiliza a conhecer o intimo de quem contracena. 
 Quando foi encontrado esfaqueado na madrugada de 7 de setembro do ano passado enfatizaram no tribunal que ele estava perto de um ponto de prostituição de travestis e o caso só foi solucionado em julho deste ano. A mãe justificou que o filho voltava de uma festa no centro da cidade quando foi morto. Veja bem a singularidade do caso: jovem negro é morto à facadas no centro da cidade e o suprassumo que o tribunal encontrou pra solucionar o caso foi simplesmente dizer que "morreu por que tava perto de um ponto de prostituição". Essa foi a noticia nos jornais e a mãe além do luto ainda teve que justificar que o filho não tava fazendo programa e nem brigando por uma prostituta.
 É assim que acontece, o sistema te mata e depois suja a sua imagem. Envergonha a família. Humilha a memória.
 Hoje entendo que ele, com aquela altura e postura toda, dentro de um vestido de princesa foi uma afronta: um homem daquele tamanho de vestido incomoda, preto no topo também.


Texto dedicado à memoria do ator e modelo Ygor Cotrim

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

O Sublime, O Subliminar e O Subentendido

AÉREO

 Mais do que belo, subjetivo e portanto pode tomar qualquer forma de livre expressão; diz-se daquela sensação de ápice que conduz o nosso ego e também pode ser comparado ao que é extraordinariamente bom.

INCONSCIENTE

 Persuasão discreta: primeiro dão aos olhos a ilusão de movimento com, no mínimo, vinte e quatro quadros de imagem ligeiramente diferentes por segundo e depois colocam entre os quadros a mensagem a ser gravada na mente.

CONSCIENTE

 Aquilo que não te falo mas que com certeza você sabe, já que palavras não são o único meio de expressar uma mensagem. O que você não diz também diz alguma coisa e enfim isso é comunicação, da pra ler-te e é quase telepatia.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Bola 8

  Pool é um tipo de sinuca em que as bolas são divididas aos jogadores pela numeração do 1 ao 7 e do 9 ao 15 sendo a bola 8 decisiva, a ultima que cai.

 Enquanto a minha poeira abaixa a dele sobe, somos ratos entocados, eramos muitos mas hoje talvez três e a tática mais eficiente pra sair ileso é não correr. Quando quem se protege é perseguido temos que pensar de forma estratégica e não podemos parar nossas vidas por isso. O amanha é outro dia e nos abriga: um sem endereço, outro se adaptando a uma personalidade paralela e ainda tem o que simplesmente não se esconde.
 Eles precisam procurar primeiro quem dá mais trabalho pra ser encontrado, então, com a cara no Sol um de nós faz a anarquia do riso e do deboche. A persona que tem se adaptado faz a anarquia da articulação, se mostra aos confiáveis e inofensivos, dos outros se protege. A anarquia pelo exemplo vem pelas mãos do que se esquiva melhor das armadilhas e tem o maior numero de tocas.
 Esses papéis não são fixos e podem ser embaralhados a qualquer momento.