sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Eu Não Quero Ver Você Sorrindo Ópio

 Outra crônica sobre palhaços


 Um dia desses andando na pressa do centro vi um clown tocando violão. Atravessei a avenida na tentativa de ouvir o que ele dizia, era uma musica conhecida e parecia que ele errava a letra de propósito mas não mudava o tom das metáforas de forma alguma.

"Eu não quero ver você fumando ódio
Eu não quero ver você sorrindo ópio, pra sarar a dor"

 É como se o abismo não só olhe pra mim como também me engula, a queda é leve e lenta como a da Alice no país das maravilhas mas não há quadros e mesas e nem coisa nenhuma ao redor. Não é tão ruim quanto parece, quando se chega no fundo do poço dá ate uma satisfação e vontade de continuar lá, mas não pode. O fim do abismo nada mais é do que um espaço de tempo pra refletir: como e por quê caímos, como vamos sair e quem vai nos ajudar.
 É como ser presenteada pelo garoto que faz malabarismo no sinal, é a mesma sensação da pessoa que você gosta ter elogiado seu corte de cabelo, encaixa sua mente peça por peça como longas horas de conversa com quem já passou de tudo e por fim é como anadar na contra mão em velocidade baixa, entre o frio na espinha e a cautela.
Trabalho a noite, durmo de dia, nem sei se volto pra casa

 Do maluco que ja me protegeu na volta pra casa de madrugada aos malucos do mundão que rompem fronteiras e limites, os arlequins que não deixam a minha mente cair em tédio durante as horas sinistras, os gritos nos muros, os companheiros que se encontram distante de mim fisicamente mas mentalmente sempre estão em conexão, a paixão nossa de cada dia, os pilares e os parceiros: tudo isso vem da rua, e ela me salva.