quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Todo Homem E Toda Mulher É Uma Estrela

"Vou mostrando como sou
E vou sendo como posso,
Jogando meu corpo no mundo,
Andando por todos os cantos
E pela lei natural dos encontros
Eu deixo e recebo um tanto
E passo aos olhos nus
Ou vestidos de lunetas,
Passado, presente,
Participo sendo o mistério do planeta[...]"


Este texto não é platônico, ele é heavy metal.

Vocês já ficaram tão fodidos a ponto de comover até a pessoa mais fodida que encontraram no caminho?
 Andar na praça depois das 22 horas não pode, é suspeito, me disseram um dia. Mas enquanto houver no mundo essa rebeldinha tinhosinha e sem juízo aqui que vos fala ela quebrará as regras do pacifismo assim na maciota, de boas, de leves, como passear de mãos dadas na praça. Hoots a principio não curtiu o heavy metal mas aprendeu a letra assim que conheceu o malabarista que por cachaça engano pulou do bonde onde não tinha semáforo. O paulista que descendo pra Santa Catarina não sabia se chegava à Taquarituba pulou antes de Avaré pra vender brincos de pena.
 Uma criança que vai pela primeira vez ao circo quer sentar na primeira fila e sem entender bem o que acontece se assusta com os números mais arriscados, se surpreende com o mais simples truque, uma criança que vai muitas vezes ao circo começa a desvendar as mágicas e decorar as falas do palhaço, descobre como funciona o globo da morte e passa a se sentar na lateral da platéia por que descobre que o truque é mais interessante que o espetáculo, um adulto que conhece a coxia assiste a tudo de trás pra frente com o mesmo brilho nos olhos da primeira criança. A presença de palco ao tirar e colocar a cartola num gesto mais simples de qualquer clown dizia aos meus olhos de colombina que a viagem mental sobressai as vezes à de espaço e a de tempo, quando não se pode sair do lugar, quando não se sabe se o carimbador vai nos dar o passe livre do espaço podemos libertar a nossa pineal pra viver histórias e isso não funciona como inventar uma mentira como parece, não é inventar que esteve em algum lugar ou fez alguma coisa pra impressionar o ouvinte, é estar naquele lugar e viver aquela coisa junto ao ouvinte: O teatro não é faz de conta, ele é realidade. 
 A realidade é o que somos quando ninguém nos vê, é o que fazemos atrás da coxia no escuro, é aquele seu lado que você pensa que não mostra mas os mais atentos sempre vão estar espiando pela lateral, é aquilo que você julga com medo de que te apontem e o teatro é isso escancarado. Na coxia o espetáculo é preparado, onde se escondem os truques e onde mora a verdadeira face do que é iluminado nos holofotes do palco. O palco é como a rua: aberto e a teoria da quarta parede que os atores inventam pra não se comover com o público é como agimos quando não queremos nos comover com as cenas/ do caos quotidiano, como um mendigo pedindo umas moedas pra chegar na praia ou viajar no álcool. Alias, pedindo não, trocando por brincos de pena ou números artísticos.
 A realidade deste passeio na praça depois das dez é que eu mendiguei pro mendigo. E ganhei dez minutos de prosa, meia dúzia de verso, algum tipo de imitação do Raul Seixas, um ou outro movimento articulado limpo ensaiado e um brinco de pena de pavão verde.
 Hoots ainda não aprendeu que certas coisas valem mais que seu isqueiro, nem que nem sempre os mendigos mendigam moedas.
 Eu vou dormir saudosista hoje. 


"[...]O tríplice mistério do stop
Que eu passo por e sendo ele
No que fica em cada um,
No que sigo o meu caminho
E no ar que fez que assistiu
Abra um parênteses, não esqueça
Que independente disso
Eu não passo de um malandro,
De um moleque do Brasil
Que peço e dou esmolas,
Mas ando e penso sempre com mais de um,
Por isso ninguém vê minha sacola."


Devaneio do dia 29/11/2018: esta sou eu com saudades dos malucos de Br que encontrei por ai, hoje são eles que me encontram.