- Vamos lá, eu vou subir primeiro, depois você sobe e vê como está.
- Ok.
...
- Sobe lá.
- To com medo, a escada tá tremendo.
- Sobe, eu to embaixo, se cair eu te seguro.
- Não consigo.
- Se apoia no concreto que você já vai ver.
- Fechou, tá la já.
- Quando ficar com medo tem que ser assim mesmo, pode me procurar, o medo mostra quem são as pessoas.
O estômago mais uma vez dói e eu pressinto a crise: o aperto na garganta, o frio na espinha, a dor atrás dos olhos e tudo o que já é muito familiar. A próxima crise não vem num fim de semana depois de beber até me afogar com as próprias verdades ou num momento de fraqueza, ela vem na minha subida e seus olhos não me acompanharão no declínio.
20/05/2020