O mundo, aos meus olhos, tem experimentado um período de torpeza e irracionalidade ímpar e brutal. O Espírito crítico se foi, agora nossas crianças já são mais responsáveis que nossos próprios precedentes, nossos pais, governantes, mestres, adultos - os antigos moldes do caráter e da moral - os homens de bem. Todos se perderam na busca de caminhos, - o que custou a si próprios - na contemplação de deuses e regras, seguidas com a intenção de obter o tão sonhado conforto e aprovação em existir, negligenciando a difícil e necessária emancipação, a responsabilidade por si e pelas suas próprias ações, 'erros', 'acertos' e vontades. Encantados com o mundo conceitual e frágil das ideias e certezas, estas que nunca sequer deixaram apenas de ser o que seus símbolos sugerem. Demos lugar a elas, em substituição a nós próprios e ao nosso sagrado urro primitivo, à religião, à ciência e às palavras; As ideias maiores, agora, que o próprio sentido de existir e experimentar o mundo com nossas limitações e conseguintes responsabilidades para conosco próprios."Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida - ninguém, exceto tu, só tu.Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar.Onde leva? Não perguntes, segue-o!" - [F. W. Nietzsche, also spracht Zaratustre.]
Relembrando as palavras de Theodor Adorno, no livro Palavras e Sinais, no capítulo Razão e Revelação, podemos ter uma visão consistente do que nos transformamos, no 'derrotismo da humanidade', e adiante no segundo trecho podemos observar o que possibilitou essa incapacidade crítica:
"[..] no melhor dos casos, - isto é, quando não se trata de mera imitação ou conformismo - o desejo é o pai de semelhante atitude. Não são a verdade e a autenticidade da revelação que decidem, mas sim a necessidade de orientação, de respaldo em algo firmemente preestabelecido, também a esperança de que com essa resolução seja possível insuflar no mundo desencantado esse sentido por cuja ausência não deixaremos de sofrer enquanto, como meros espectadores, mantivermos o olhar absorto no sem-sentido."
"[..] A concentração de poderes econômicos e, com isto, político e administrativo, reduz em boa medida, cada indivíduo à condição de mero funcionário da engrenagem. [..]O discurso sobre o desamparo transcendental que, outrora, expressava a miséria do indivíduo na sociedade individualista, transformou-se em ideologia, em escusa para o mau coletivismo, o qual, enquanto não dispõe justamente de um estado autoritário, apóia-se em outrasVemos claramente nas palavras de Adorno o quão profunda se tornou a vertígem da incapacidade crítica nos homens, a que ponto chegou o tal credo quot absurdum est (creio pois é absurdo), no valor que se deu a uma explicação qualquer em contraponto a uma falta de explicação para as coisas e o padrão para enquadrar os fatos de modo conveniente e aparentemente indolor. O quão ocos nos tornamos pela irremissível brutalidade dos sistemas de domínio humano e o impacto direto dessas relações dominadoras sobre nossa própria designação humana.
instituições que tenham pretensão suprapessoal. A desproporção,
crescente até o desmesurado, entre poder social e impotência social,
prolonga-se no enfraquecimento da composição interna do Eu, de modo
que este não se mantém sem identificar-se precisamente com aquilo
que o condena à impotência. Somente a debilidade procura vínculos, a compulsão a submeter-se a eles, que se transfigura a si mesma como se renunciasse à limitação do egoísmo e do mero interesse particular, na verdade, não se rege pela dignidade humana, mas sim capitula ante o que é indigno no homem."
A pretensão deste texto é pequena. Demonstrar a imparcialidade e fragilidade crítica em nosso tempo e como estamos debilitados pelo massacre, mais que carnal, da maquinaria institucionalizada do capital e colaboradores - pela cultura, pela tradição, pelo conforto das verdades pret a porter - , não tendo pretensões de propor um novo sistema para que os leitores deste texto guiem suas vidas, mas sim uma nova perspectiva crítica para que possam escolher por si próprios o melhor caminho de volta para casa.