Soy un demonio con el traje de la flor y la nostalgia.
Não estranhe a cor das minhas asas, foram queimadas assim que cai. Alguns passos a frente as feridas foram limpas e costuradas por um anjo com muitas marcas parecidas com as minhas. Olhe para mim e você conseguirá vê-lo também, os meus olhos agora transmitem a sua veemência.
Fui submetida ao silêncio até aprender a me comunicar com o anjo que me curava e parecia me conhecer, embora eu nunca o tenha visto. Me contou que havia adoecido:
— Ninguém é cem por cento bom. Eu, por exemplo, faço dezenas de coisas ruins todos os dias, mas também outras dezenas de boas coisas. Ou fazia. Você consegue me entender? É como se não sobrasse mais ninguém quando você tem uma expectativa da data da sua morte. Nem quem viu o teu pior lado, nem quem viu o teu melhor... talvez só alguns expectadores e pessoas arrependidas.
O câncer destruiu os ossos e contaminou o sangue, mas ainda não explicava a presença dele ali, como havia caído. Tive a lembrança de textos e conversas, algo sobre ser descartado ou estar sozinho, sobre liberdade, assassinato, problemas sociais, ponto de ônibus e 30mg de morfina. Havia um texto escrito de um velho sofá, com marcas, mal cheiro, restos de cigarro, livros e angústia.
Que a fronteira da sanidade e da loucura continue não sendo a desculpa para a alienação.
Texto em retribuição ao "velho sofá", onde a culpa foi de fato minha.