sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Manhã

  "A vida é sempre primavera, sem eixo, e sem fim." 

(Aleister Crowley) 



  Sou uma marionete que aprendeu a gostar das próprias cordas. 

  Samael ainda dorme, estou presa às suas pupilas e não me mover faz parte do jogo. Eu moro na via mais escura, dentro da mente dele, e caminho por ela como se não houvesse nenhum mal.  Ao acordar ele me liberta, saio pela íris e o brilho dela torna-se um espelho onde me vejo deitada, no meu semblante uma espécie de transe, fixação. 
  Beijo o seu pescoço e sinto o coração dele pulsar na minha garganta, o cheiro do sangue vivo e morno é intenso, nesse momento somos um. Eu me alimento das vísceras dele, quero me aquecer usando a sua pele e ficar bêbada de saliva enquanto meu corpo gelado treme, finalmente sinto que suas asas me envolvem e suas pupilas dilatam convidando-me a retornar.
  Essa noite eu sonhei com você   com a voz meio rouca, disse ele enquanto enrolava meus cabelos em uma toalha. E me beijou no rosto.





Texto dedicado ao meu quinto anjo e parceiro