segunda-feira, 3 de março de 2014

Brain Damage [ou negro desejo prismatizando cores...]

 

O Início: batidas graves de um coração anunciam eufórica sinfonia, acompanham lento dedilhado sustentando a passagem de notas que se atrevem a suavemente ressonarem, como se estivessem à procura do além-música. Assim a presença imaterial dos solos de Gilmour faz-se manifesta em sua pura liberdade e intensidade sonora. E é adentrando nessa atmosfera metamusical que vemos os Floyds fazerem da loucura matéria poético-existencial: os lunáticos estão no gramado, na sala, em nossas próprias cabeças.

Compõem assim um locus simbólico em que toda a faixa se inscreverá: o colapsar existencial, um dentro-fora que faz entremear o que dizemos e o que diz de nós, o que nos vê e o que por nós é visto.Entre backingvocals marcantes, falas e risadas, constrõem metáforas que caricaturizam a própria condição da loucura, em que o vínculo entre o Eu e a realidade é perdido, em que sujeito e objeto se confundem e se misturam indiferenciadamente.

E é de dentro desta condição que, valendo-se da semântica musical e linguística, eles anunciam um encontro conosco no limite do psico-lógico: "I'll see you on the dark side of the moon." Assim, magistralmente remetem nosso fluxo de consciência ao próprio disco e ao encontro mágico e transcendente com a música, que acaba por ser sempre uma descoberta de si mesmo.
Para nos despedirmos desse encontro, nada melhor que o fragmento de um "louco". As Pessoas de Fernando:

"A loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição normal humana. Não ter consciência dela, e ela não ser grande, é ser homem normal. Não ter consciência dela, e ela ser grande, é ser louco. Ter consciência dela, e ela ser pequena, é ser desiludido. Ter consciência dela, e ela ser grande, é ser gênio."
por Ser Gio Júnior