"Quando da treva dos enganos
Meu verbo cálido e amigo
Ergueu a tua alma caída,
E, plena de profunda mágoa"
(Niekrassov)
Com as asas debilitadas e um brilho maldito nos olhos, anjos caminham pela madrugada do submundo e quase nunca são vistos na luz. Desorientados, cansados ou iludidos, somos parte de um cenário em chamas onde a fumaça obstrui meu pulmão e toma minha mente. Um anjo que se equilibra no meio fio de asas abertas vem acompanhar a minha morte e observa a minha asfixia tranquilo e sádico, como Nero. Não sei se o vermelho nas nossas roupas é sangue ou vinho, com a boca seca e amarga, sentindo calafrios e enjoo eu vejo pessoas mas na verdade estamos sós, sufoco enquanto ouço o coração dele bater e passo a existir apenas dentro daqueles olhos.
Nós agora andamos de mãos dadas na mais mórbida treva.
Nós agora andamos de mãos dadas na mais mórbida treva.
Devaneio dedicado a um demônio de olhos puxados.