quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Uma Fábula Sobre a Fábula


  Era uma vez um soldadinho de chumbo que ao ouvir a estória de um colega (aquele de uma perna só que morre queimado) desenvolveu um trauma de lareiras. 
  Ele vivia feliz admirando sua respectiva boneca bailarina, que era estilo Susi e não de papel, e junto dos outros soldadinhos feitos do mesmo molde desempenhando suas funções de segurança do Estado patriarca com uma pequena e singela .40 (que cá entre nós é preferível levar uma bala de 22 na testa, que desliga o cérebro rápido e a morte é certa do que ficar em agonia sangrando por um buraco do tamanho do dedão e na dúvida) ate que em uma bela noite se deparou com um gênio quase tão ruim e de pensamentos quase tão maus quanto os do geniozinho da cigarreira, porém de saia estampada.
  O soldadinho não parecia ter medo de quedas, de água e nem de peixe. Se ele pensava no amor da boneca bailarina enquanto navegava é um mistério. O gênio, acostumado a torcer para que o vento derrube os soldadinhos todos nas chamas, comoveu-se ao notar que aquele coração feito de chumbo derretia com facilidade, não sobraria intacto entre as cinzas e que talvez não tivesse sido inventada ainda a Susi suicida apta ao trágico "morreram felizes para sempre". Talvez agora, em meio a um final desconhecido, a conjuntura esteja favorável para que o soldadinho acenda a própria lareira e compreenda a função das chamas.