segunda-feira, 18 de maio de 2015

Poder pessoal, compreensão e ser eterno


"— Não importa o que se revela e o que se guarda para si. Tudo o que fazemos, tudo o que somos, reside em nosso poder pessoal. Se temos o suficiente, uma palavra que nos for pronunciada pode ser suficiente para mudar o rumo de nossas vidas. Mas, se não tivermos suficiente poder pessoal, o fato de sabedoria mais magnífico nos poderá ser revelado sem que tal revelação faça a menor diferença. — Ele aí baixou a voz, como se estivesse me contando algo de confidencial. — Vou pronunciar o que é talvez o maior fato de sabedoria que qualquer pessoa possa exprimir.Vejamos o que você pode fazer com isso: Sabe que neste momento você está cercado pela eternidade? E sabe que pode usar essa eternidade, se o desejar?
Depois de uma pausa prolongada, em que ele me pediu, com um movimento sutil dos olhos, para fazer alguma declaração, eu disse que não estava entendendo de que ele estava falando.
— Ali! A Eternidade está ali! — e apontou para o horizonte. Em seguida, apontando para o zênite, acrescentou: — Ou ali, ou talvez possamos dizer que a eternidade é assim. — Ele estendeu ambos os braços para Leste e Oeste.
Nós nos entreolhamos. Os olhos dele encerravam uma pergunta.
— O que me diz disso? — perguntou-me, sugerindo que eu ponderasse sobre suas palavras.
Eu não sabia o que dizer.
— Você sabe que pode estender-se para sempre em qualquer das direções em que apontei? — continuou ele. — Sabe que um momento pode ser a eternidade? Isso não é uma charada; é um fato, mas somente se você agarrar esse momento, utilizando-o para levar a totalidade de você em qualquer direção, para sempre.
Ele ficou olhando para mim.
— Você antes não possuía esse conhecimento — disse ele, sorrindo. — Mas agora possui. Eu o revelei a você, mas não faz a menor diferença, pois você não tem suficiente poder pessoal para utilizar minha revelação. No entanto, se você tivesse suficiente poder, minhas palavras bastariam para lhe permitir reunir a totalidade de você e fazer com que a parte importante saísse dos limites em que está confinada.
Ele se postou a meu lado e cutucou meu peito com os dedos. Era um tapinha muito de leve.
— São esses os limites a que me refiro — prosseguiu. — Podemos libertar-nos deles. Somos um sentimento, uma consciência encerrada aí.
Bateu em meus ombros com ambas as mãos. Meu bloco e lápis caíram. Dom Juan pôs o pé sobre o bloco, fitou-me e aí riu.
Perguntei-lhe se ele se importava que eu tomasse notas. Respondeu-me que não, num tom tranquilizador, e tirou o pé.
— Somos seres luminosos — disse, sacudindo a cabeça ritmadamente. — E para um ser luminoso só interessa o poder pessoal. Mas, se me perguntar o que é o poder pessoal, terei de dizer-lhe que minha explicação não o explicará." (Carlos Castaneda - Porta Para o Infinito)