"A vida sempre me pareceu planta que vive do próprio rizoma. É certo que é invisível, oculta no rizoma. A parte que aparece sobre a terra dura apenas um verão e depois murcha. É uma aparição efêmera. Quando meditamos no infindável crescimento e declínio da vida e da civilização, não conseguimos fugir à impressão da nulidade absoluta. Todavia, jamais perdi o sentimento do que algo vive e perdura, sob o fluxo eterno. O que vemos é a flor que passa. O rizoma permanece." (C. G. Jung)
"Que havemos de fazer, se vivemos à deriva, num mar de ignorância? Os niilistas dizem 'nada'. Acham que devemos continuar à deriva, como se não fosse possível traçar um roteiro em mar tão vasto ou encontrar destino claro e significativo. Outros, porém, suficientemente lúcidos para saber que estão perdidos, ousam esperar que se possa, laboriosamente, vencer a ignorância através de uma consciência mais desenvolvida. Estão certos: isto é possível. Mas esta consciência mais ampla não lhes será concedida através de um relâmpago deslumbrante. Ela virá aos poucos, grau por grau, fase por fase, e cada fase deve ser trabalhada pelo paciente esforço do estudo e da observação. Observação, inclusive, de si próprio. Somos humildes estudantes. O caminho do desenvolvimento espiritual é longo e aprende-se durante toda a vida.
Se este caminho for longo e seriamente palmilhado, começarão a entrar em seus lugares as diversas peças da sabedoria. As coisas aos poucos vão fazendo sentido. Virão os becos sem saída, as decepções, os conceitos que devem ser desprezados assim que forem sendo encontrados. Mas gradualmente atinge-se uma compreensão cada vez maior do que é a existência. E, aos poucos, chega-se ao ponto em que já se sabe o que se faz. Chega-se ao poder.
A experiência do poder espiritual é basicamente alegre. É a alegria de possuir a maestria. Não há satisfação maior, na realidade, do que a de ser perito em alguma coisa, saber realmente o que se faz. Os que mais se desenvolvem espiritualmente são os peritos na arte de viver.
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Todavia, quanto maior nossa consciência, mais dados teremos para assimilar e para integrar ao ato de decisão. Quanto mais soubermos, mais complexas se tornam as decisões. Ao mesmo tempo, quanto mais sabemos, melhor podemos predizer os acontecimentos." (Formação da personalidade, um caminho a desbravar - M. Scott Peck)
"Orestes era neto de Atreu, que tentara perversamente provar que era maior que os deuses. Os deuses, para o punir pelo seu crime, lançaram uma maldição contra todos os seus descendentes. Em consequência a esta maldição, a mãe de Orestes, Clitemnestra, matou seu pai, Agamenon. Este crime lançou a maldição sobre Orestes, visto que, segundo o código de honra grego, o filho era obrigado a matar o assassino do pai. Todavia, o maior pecado que um grego poderia cometer era o matricídio. Orestes entrou em angústia, diante de seu dilema. Afinal, fez o que lhe parecia que devia fazer: matou a própria mãe. Por este pecado, por determinação dos deuses, Orestes foi perseguido pelas Fúrias, três harpias terríveis que só eram vistas e ouvidas por ele e que o atormentavam dia e noite com seu sarcasmo e seu aspecto macabro.
Perseguido pelas Fúrias, Orestes vagueou pela terra tentando resgatar seu crime. Depois de muitos anos de reflexão e renúncia, suplicou aos deuses que o livrassem da maldição da Casa de Atreu e das Fúrias. Acreditava já ter resgatado o crime do matricídio. Houve um julgamento de deuses e Apolo falou em defesa de Orestes. Argumentou que ele havia determinado a situação e colocado Orestes numa situação em que ele nada mais poderia fazer senão matar a própria mãe. Orestes, portanto, não podia arcar com a responsabilidade. Neste ponto, Orestes contradisse seu defensor, afirmando que ele, e não Apolo, havia assassinado Clitemnestra! Os deuses espantaram-se, visto que jamais um membro da Casa de Atreu assumira total responsabilidade por seus atos. Todos haviam culpado os deuses. Decidiram, afinal, em favor de Orestes, anularam a maldição e transformaram as Fúrias em Eumênides - espíritos suaves e sábios que aconselhavam Orestes." (Mito grego de Orestes e as Fúrias - versão de Edith Hamilton)
"Aqueles que enfrentam a própria doença mental e aceitam suas responsabilidades, fazendo em si as necessárias mudanças destinadas a superá-las, livram-se, não só das maldições da infância e da própria ascendência, como adquirem nova vida num mundo diverso. O que antes sentiam como problemas sentem agora como oportunidades, o que eram antes barreiras, transformam-se em desafios bem-vindos. Pensamentos assustadores tornam-se visões importantes; sentimentos que antes repeliam tornam-se fontes de energia e orientação. O que antes lhes parecia um fardo parece-lhes depois uma dádiva, mesmo os sintomas dos quais se libertaram." (Formação da personalidade, um caminho a desbravar - M. Scott Peck)