terça-feira, 18 de novembro de 2014

Passagem do aniversário para o desaniversário.


 Consultando Dostoiévski como um oráculo, reencontrei você (blasfêmia?). 

— Bem, morrerei então — respondeu num tom já de todo rancoroso, e seu corpo teve um estremecimento rápido.
— Mas dá pena, a vida. — Silêncio.
— Você teve um noivo? Hem?
— Para que precisa saber?
— Não estou interrogando você. Que me importa? Por que fica zangada? Naturalmente você pode ter passado dias difíceis. Que me importa? Mas tenho pena.
— Não precisa... — murmurou quase imperceptivelmente e tornou a estremecer.
Aquilo me irritou no mesmo instante. Como?! Eu lhe falara tão docemente, e ela...
— Mas o que pensa você? Que está no bom caminho, hem?
— Não penso nada."

"E o principal, por mais que se rumine o caso, está em que sou o primeiro culpado de tudo, e o que é mais ofensivo, culpado sem culpa e, por assim dizer, segundo as leis da natureza."

"Fiquei um instante sozinho. Desordem, restos de comida, um cálice quebrado no chão, vinho derramado, pontas de cigarro, embriaguez e confusão na cabeça, uma angústia torturante no coração e, finalmente, o garçom, que tudo vira e tudo ouvira e me espiava com olhar curioso."

Não necessariamente nessa ordem.




À um escorpião imperador.