A música com caráter crítico, poucos acordes e solos simples em harmonia com ideais políticos e culturais deu origem ao movimento Anarcopunk. Ramones e Sex Pistols são boas bandas de Punk Rock, muito conhecidas que influenciaram um grande número de pessoas, mas não acredito que caibam no contexto das músicas de protesto de bandas que destilaram ódio sobre o sistema sem medo de perder e sem a intenção de ganhar os holofotes, ironizando situações econômicas e políticas com o objetivo de atingir o público como um choque elétrico, fazendo com que despertem. Crass, Dead Kennedys, Sin Dios ou as brasileiras Cólera, Calibre 12 e a Mollotov Attack (que trocou uma ideia com a gente sobre tudo isso) são bons exemplos.
Margarida Flor: A banda Mollotov Attack, de São Bernardo do Campo-Sp, foi formada em 2005. Como se conheceram e quais foram os momentos mais marcantes da carreira de vocês?
Bollaxa: Bom eu e o Didi nos conhecemos desde a escola, já o Madruga (1º guitarrista) nós conhecemos no role, em shows e bares que frequentávamos. Então em 2005 decidimos
formar a banda com proposta de tocar hardcore punk com influência de bandas dos anos 80.
O Wagner Cyco nos conhecemos em shows que tocamos juntos com sua banda Irma Thalita.
Quando o madruga decidiu sair da banda em 2011 chamamos o Wagner Cyco para assumir a Guitarra e com essa formação Bollaxa baixo e voz, Wagner Guitarra e voz e Didi bateria estamos até hoje.
Didi: Conheci o Bollaxa na escola em 2001, desde então nos demos muito bem por curtir sons pesados. Na época eu curtia muito metal, e ele era mais do punk rock, começamos a andar juntos, frequentar o Volkana que era próximo de casa, ele tinha uma banda, o Gomma, que eu frequentei muito os ensaios e shows e em 2005 formamos juntos o Mollotov Attack com nosso antigo guitarrista Madruga, Que conheci nos roles com o Bollaxa... Depois de anos de estrada, conhecemos a banda Irmã Talitha onde o Wagner Cyco é vocalista e guitarrista. No final de 2011, com a saída do Madruga, nossa primeira opção foi fazer um convite ao Wagner, convite mais que aceito e precisando assim apenas de um ensaio pra saber mesmo que ele era o caraaaaa... e assim seguimos até hoje.
Sobre o momento marcante, pra mim, foi tocar fora do estado de São Paulo, depois de tantos anos de estrada. Tocar em outro estado foi do caralho. Tocamos em 2013 no Rio de Janeiro, puta aventura, aconteceram historias inesperadas que com certeza marcou todos nós.
MF: A cultura punk do ABC paulista é fortíssima construída por bandas como Ação Direta, Hino Mortal, DZK, entre muitas outras. O que vocês acham do som dos conterrâneos e quais são as maiores influências musicais de vocês?
Bollaxa: Essa é a nossa escola musical vimos muitos shows dessas bandas aprendemos muito com eles e continuamos aprendendo afinal, são nosso grandes aliados. O Barata da Banda DZK fez participação no nosso CD Resistência, na música “O meu grito” e o Gepeto da Banda Ação Direta terá Participação crucial no nosso próximo disco. São monstros do Underground. Há alguns anos atrás diria que nossas influências eram punk/hardcore 80, hoje em dia agregamos mais estilos à banda, temos muita influência de crossover, hardcore NY. Misturamos muita coisa nas músicas não tocamos mais um estilo só. Após 9 anos de banda evoluímos musicalmente principalmente por conta da troca de guitarrista, o Wagner curte mais som pesado e agregou isso nas músicas novas, que estão foda!
Didi: Pra nós é um orgulho fazer parte da cena do ABC. A história do ABC na cena é muito foda, de ser muito respeitada. Não teria como não ter nos influenciado. Bandas como Ulster, Ação Direta (mitos), DZK, Negative Control, Garotos Podres, Grinders, Hino Mortal é algo surreal, só banda foda (risos). E hoje fazer parte da cena e dividir o palco com algumas dessas bandas citadas, pra nós é um puta prazer, até por que nossas influências foram eles próprios...
MF: Hoje em dia tudo vira moda, principalmente se for politicamente incorreto ou agradável aos olhos alheios. Vocês acham que existe o "punk de verdade" e o "punk de boutique"? O que os diferencia?
Bollaxa: Sempre existirá! Para mim punk é um estado de espírito agregado a cultura e atitude. Há anos atrás para você descolar qualquer coisa voltada para o punk, hardcore ou metal teria que ir a lugares específicos, para descolar um disco, um livro etc... Hoje em dia as coisas estão mais acessíveis. Não tem como você julgar ninguém acho que quem chega no rolê para somar será bem vindo, tem idéias boas será bem vindo. O importante é somar no rolê, fortalecer a cultura de rua, ter postura e atitudes que condizem com a sua ideologia. Logo as máscaras caem e então se sabe que é de verdade e quem é de mentira.
Didi: Ah, pode ter certeza que existe sim o punk de verdade, o punk de atitude. Vejo isso a
muitos anos, o punk não morreu. O verdadeiro punk é aquele que luta pelo seu ideal, faz
acontecer, não se veste pra agradar ninguém. O punk hoje em dia virou moda por quê? Por
causa da mídia, da moda. Você compra uma camiseta dos Ramones em qualquer esquina ou qualquer loja de shopping, compra junto com uma jaqueta de couro e sai no "visu punk boy". Isso é ter atitude? Sem atitude alguma, isso pra mim não é punk. É moda ou "punk de boutique". Porém os verdadeiros resistem a tudo isso, essa moda passará e quem é de verdade seguirá sua batalha. Sabemos quem são os verdadeiros, e esses são os que fazem a cena acontecer até hoje...
MF: Vocês tocam em vários tipos de lugares e festas? Quem costuma ser o público?
Didi: hoje em dia é muito variado, vai muito da casa e das bandas chamadas pro evento. Tem lugares que costumam ser frequentados apenas por punks, então já sabemos como será o público da casa. Às vezes acontece de tocarmos com bandas de estilos variados como o metal, ska, etc. e o público ser bem diferente, eu acho bem legal tocar pra um público que
não costuma escutar o estilo de som que tocamos e no final vem falar conosco, dizendo que
curtiu o som, isso é muito gratificante. Fora que o público do metal também vem curtindo
bastante e agitando suas cabeleiras em nossos shows. Mas, na maioria das vezes, o público
é formado por punks mesmo.
Bollaxa: Geralmente tocamos em bares, casa de show. Nos nossos shows geralmente quem comparece é a galera punk hardcore mas como tocamos com bandas mais pesadas (trash metal, crossover) também acaba que a galera que curte um som mais pesado também tem somado com agente, o que é ótimo.
MF: O álbum "Resistência", lançado em 2012, é um chute na cara da burguesia com participações especiais e reflete a essência do anarquismo em todas as letras. Quais são as influências ideológicas de vocês?
Bollaxa: Com certeza temos anarquismo agregado a nossas musicas pois partimos do
principio punk para formar a banda e isso nunca ira mudar, mas apesar de sermos uma banda somos 3 cabeças que pensam diferentes fica difícil colocar o que todos pensam em uma frase. Mas o que posso dizer é que somos 3 irmãos afim de tocar Hardcore, goste ou não nós não vamos parar!
MF: Quem compõe as letras?
MxAx: Bollaxa e Wagner Cyco
MF: A primeira eleição presidencial após a reforma de 2011 que aprovou o voto facultativo no Chile levou às urnas cerca de 40% dos eleitores, apenas. O que vocês pensam a respeito do voto obrigatório e da maneira como funciona a "democracia" no Brasil?
Wagner: A primeira coisa a se levar em conta antes de se fazer qualquer comparação, é que somos um país com dimensões continentais. Não dá pra aplicar a realidade de uma
determinada região em outra, dentro de nossas próprias fronteiras, sem cometer algum tipo
de injustiça, quanto mais comparar com um outro país. O voto obrigatório ainda é resquício do coronelismo. Ainda faz com que sejamos governados por quem pode mais durante a
campanha, seja através da propaganda, da compra de votos ou da ameaça aberta. Teoricamente, o voto facultativo levaria as pessoas mais esclarecidas a fazer essas escolhas, porém também não seria garantia nenhuma, sendo que nosso sistema educacional não cumpre sua função de desenvolver o pensamento crítico e a consciência social.
Bollaxa: acho que voto obrigatório não ajuda em nada porque muita gente nem sabe em quem vai votar, escolhe qualquer filho da puta e confirma só por obrigação, sem compromisso algum. Pelo menos esses 40% de eleitores que compareceram na votação do Chile foram lá por que realmente estava afim de votar e tentar mudar o pais deles não foram por que eram obrigados. No Brasil democracia é uma piada! Deveria chamar “Demoniocracia”! (risos)
Quem elege políticos aqui é a mídia que empurra merda no horário nobre pra cima do povo,
estamos cansados de saber disso, horário eleitoral favorece os safados que tem grana. E ai o povão vai no embalo afinal é obrigado a escolher qualquer um então escolhe o conhecido lá e pronto.
MF: No final de 2013 o Uruguai legalizou o cultivo, a venda em algumas farmácias e o consumo de maconha para fins medicinais ou recreativos com qualidade e quantidade controladas pelo Estado. No Brasil, o comércio da erva sem nenhum tipo de controle de qualidade é comum e o número de usuários é bem alto, mostrando o quão ineficaz e antiquada é a nossa legislação atual. Que aspectos positivos e negativos teria a legalização da maconha por aqui?
Bollaxa: Aspectos positivo com certeza seria os estudos que serão desenvolvido sobre a
erva para descobrir os seus benefícios, afinal ela é legalizada por fins medicinais. Creio que as únicas pessoas que não querem a legalização da erva é quem ganha dinheiro em cima dela pois com certeza isso diminuiria o tráfico da maconha, mas não inibiria sua venda ilegal. Com certeza a maconha legalizada seria muito mais cara do que a traficada por conta dos impostos e tal, quem não tem grana e quer fumar vai continuar comprando do traficante pois é mais barato.
Didi: sou a favor da legalização mas o brasil é um pais muito desatualizado, há anos o cultivo é legalizado em vários países da Europa, lógico que agora chegando à América do Sul isso é mais comentado, mas acho que o Brasil ainda não esta preparado pra debater esse tipo de assunto, se tornará algo totalmente politico e passará por muitos debates e votações, só o governo ganhará com isso sendo o ponto negativo de tudo. Qualidade seria o ponto forte, ervas plantadas para uso medicinal nunca tivemos acesso, deve ser coisa de outro mundo ou primeiro mundo e ainda estamos longe disso. Chegar e comprar em uma farmácia? Acho que teríamos que passar por muitas mudanças até lá. O país não tem educação nenhuma, hospitais... É um caos e o pensamento apenas em copa do mundo. Acho que não estamos prontos para a legalização.
Wagner: Acho que o Brasil está um tanto atrasado em relação aos seus vizinhos e ainda não é possível dar-se ao luxo de lidar com essa questão. Ainda temos muito que caminhar em relação à educação básica de qualidade e políticas públicas, antes de tentar combater o tráfico tornando o governo um concorrente no negócio. Até porquê o governo não é confiável e trabalha por seus próprios interesses. As pessoas precisam ter condições de competir no mercado de trabalho de forma justa, ter acesso à moradia, saneamento básico, lazer e cultura. Precisam voltar a ver nas pessoas honestas um exemplo. Não dá pra aceitar que o “fique rico ou morra tentando” seja o caminho certo. O menino na periferia entra para o tráfico por pura revolta, de ver a malandragem ostentando dinheiro fácil e poder, enquanto sente vergonha da própria família, que se mata de trabalhar e mal consegue sobreviver. E a legalização da maconha não vai mudar em nada essa situação.
MF: "O objetivo da revolução em todo o mundo é um só: a queda do capitalismo com todas as suas instituições draconianas." (LEUENROTH, 1963, p.72). Vocês acreditam que a utopia de ontem está a caminho de tornar-se realidade?
Wagner: Não, de forma alguma. O capitalismo está enraizado no coração das sociedades. Pior ainda: no coração das pessoas. O objetivo na vida passou a ser o acumulo de riquezas, a busca do poder pelo poder. Quem deveria lutar contra essa injustiça foi convencido de que esse é o caminho certo, e se tornou uma engrenagem ainda mais eficiente nessa escavadeira do abismo social. Desde criança te enchem a cabeça com um monte propaganda e te impõe desejos e necessidades que você não tem. Te convencem que ter um carro do ano, ou um celular de última geração é o que vai te fazer feliz. Colocam a felicidade numa prateleira de mercado e te convencem que é um item essencial, que é o sentido da vida. Desde a revolução industrial te arrancaram o prazer de trabalhar, de produzir algo, de se orgulhar de ter uma existência construtiva e passaram a tentar te convencer que sua vida é só aos finais de semana, que tudo se resume à diversão, ao consumo. A revolução não passa mais pela queda do capitalismo, já é tarde demais pra isso, porém ele precisa ser revisto. Já ficou claro que as migalhas que caem da mesa dos afortunados não são o suficiente. Os barcos não irão todos subir quando aumentar o nível da maré. E o trabalho do francês Thomas Piketty, “O capital no século XXI” deixa isso bem claro.
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